a moça da chuva

A avistei quando desembarquei do ônibus, no ponto mais próximo do metrô, como mandava minha rotina, ela caminhava lindamente na garoa fina, que não parecia a incomodar em nada, a chuva fazia parte dela, parte do cenário que a envolvia. Um sorriso iluminava seu rosto e seus olhos nadavam em cada gota de chuva que insistia em repousar nos seus óculos de armação retrô, cheguei a pensar que até a chuva queria aproveitar um pouco da moça. As cores que a formava combinavam, dois tons de preto (apenas para não citar cinza, cinza não combinava com a paleta e muito menos com a moça), marrom e azul sob a pele quase queimada pelo sol, acho que voltou de férias há pouco, ainda tem marca de biquíni próximo a clavícula tatuada. A moça da chuva caminhava sem nenhuma preocupação pesando seus ombros, arrisco-me a dizer que estava satisfeita com a própria existência. E em poucos minutos de caminhada juntos percebi que sua satisfação me atingiu e me fez satisfeito, causou-me auto-felicidade, se é que isso existe. Entramos no metrô e o destino gritou dentro de mim: vocês estão destinados, olhe um pouco mais, aproveite sua aurea, mas duas estações após a moça da chuva se foi, com a mesma calma ao caminhar, com o sorriso ainda iluminando os olhos com as gotas de chuva nos óculos. Sorri e acenei com a cabeça um sim, ainda olhando-a pela janela, com gesto de “Obrigada moça da chuva! Você me fez mais vivo, só por viver.”

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