Dezenove dias se passaram

Hoje eu olhei meu celular e vi a publicação de uma atriz que eu gosto. Assim que vi, tomei um susto porque eu queria ver a peça de teatro virtual que ela participaria. Olhei pro relógio e ainda faltavam 10 minutos. Ótimo. Olhei minha agenda para pegar o link e… Não era hoje, será amanhã. E aí eu olhei pra frente e pensei “eu escrevi isso na minha agenda hoje? Como assim?”. E notei que Janeiro inteiro, até agora, tem sido assim. Um borrão. Eu pisquei e já se passaram dezenove dias quando parece que foi ontem que estava fazendo marcadores de livro para dar de presente de Natal.

2020 foi difícil, apesar de saber que tenho um monte de privilégios que fizeram ser bem menos difícil pra mim, mas no fundo eu já esperava que 2021 fosse pior. Iniciar um ano sem saber quando será possível ser imunizada tomando vacina, lendo sempre sobre um número exorbitante de mortos que já há muito tempo eu deixei de conseguir mesurar. E além da questão global, se sentir extremamente culpada por não querer virar o ano, porque significa que agora estou oficialmente formada. E oficialmente sem ideia de como seguir a vida. A ideia de ser adulta sempre me assustou, mas nos últimos anos tive a oportunidade de experimentar o gostinho disso aos poucos e, ainda que seja somente na minha cabeça, agora eu sinto que tenho que mergulhar de cabeça numa piscina gelada. Sem saber nadar.

E então eu passei dezenove dias fingindo que não existo. Cumprindo o mínimo de obrigações possíveis e me afundando em ficção. Só esse mês tenho quase certeza que terminei 4 séries inteiras e mais alguns filmes. Eu sou meio viciada nisso, viver a vida pelos personagens porque mesmo que eu seja mega sensível e me afete por suas histórias, as histórias seguirão seus cursos mesmo que eu não queira fazer nada. E, honestamente, nem que eu precise apertar o botão de “próximo episódio” porque os apps se encarregam disso.

Não é como se isso fosse novidade para mim, essa fuga, mas fiquei surpresa em olhar pro celular e notar que não vi 19 dias passarem. Talvez eu fuja até o dia 20. Talvez eu fuja por mais 60 dias. Não sei, ainda não sei o quanto vou precisar, mas eu tenho quase certeza que uma hora eu volto, uma hora eu regulo o sono, uma hora eu vou conseguir beber mais água ou olhar mais o céu pra entender que está dia ou que está noite. Uma hora, espero, eu viva a minha própria vida e não a de um personagem. 

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